"O que fazemos na vida ecoa na eternidade"

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

literatura brasileira [ parnasianismo]

MAL SECRETO
(Raimundo Correia)

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N'alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!



Análise.
Percebe-se ao analisar o soneto MAL SECRETO , do Raimundo Correia produzido em 1898, uma poesia que reflete a época da arte pela arte,contem a estrutura de um soneto possui todos os versos decassílabos, o que ajuda no ritmo do soneto, notasse-se também que possui 4 estrofes, sendo as duas primeiras com 4 versos e as duas últimas com 3 versos , o mesmo tem rima no esquema alternado ABAB (os quartetos) e CCD ( os tercetos). Percebe-se então, que há características fortes de um poema da época Parnasiana, embora o autor tenha características de outro movimento anterior ,pela qual ele passou,que era fase romântica .
Sua obra diferencia um pouco dos demais parnasianos porque sua poesia é marcada por um forte pessimismo, chegando até a ser sombria. Ao analisar a obra de Raimundo Correia percebe-se que há nela uma evolução. Ele iniciou sua carreira como Romântico, depois adotou o Parnasianismo e, em alguns poemas aproximou-se da escola Simbolista, pois como é sabido os simbolistas tentaram retomar algumas características do romantismo e nesse soneto contem alguns traços dessas duas escolas .
É importante ressaltar que ele fez uso de recursos sonoros e visuais ,pois o ritmo é marcado pela sonoridade, especialmente nas palavras tônicas, e nas rimas a marca do tom consistente e forte como vemos no primeiro verso :que espuma e logo após que punge.
O poema trata de uma visão de que a alma transmite o que sente ,é sabido que muitos possuem a mascara que esconde esta realidade. A fuga como se olhar no olho não diria verdade alguma, pois os casais que o fazem, muitas vezes se enganam, afinal os olhos que choram, nem sempre é de tristeza, mas de muita alegria, é isso que o autor deixa-nos transparecer na estrofe a seguir :Se se pudesse o espírito que chora, Ver através da máscara da face, o texto é um Paradigma realmente.
Percebe-se neste soneto logo na primeira estrofe uma certa tristeza fazendo-nos refletir: Se a cólera que espuma, a dor que mora N'alma, e destrói cada ilusão que nasce, Tudo o que punge, tudo o que devora O coração,no rosto se estampasse.
É também uma poesia filosófica pois fala da alma humana, em toda sua extensão o autor dá a entender que toda nossa tristeza e angustia está escondida no nosso íntimo e que muitas vezes fica imperceptível, porque em nossa aparência física podemos mostrar uma alegria ( através do sorriso ou de atitudes) e as pessoas não perceberem todo mal que nos afligem.
Raimundo Correia, foi um consumado artesão do verso, dominando com perfeição as técnicas de montagem e construção do poema .E sobretudo esse poema estampa bem o predomínio da simulação, percepção aguda da transitoriedade da ilusão humana, profundo se das virtualidades vocabulares afinal ele era parnasiano os temas adotados giram em torno da perfeição formal como vemos em todo o poema mal secreto tanto na forma quanto no conteúdo .

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by: Tiago Iorc

E se tropeçar, do chão não vai passar. Quem sete vezes cai levanta oito 👊😘

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